Arrogância de César e seu desprezo pela República
Suetônio, em sua obra Vitae Caesarum (“Vidas dos Césares”, livro I.77) conta, pela boca de Titus Amprius, que Júlio César, em sua arrogância e desprezo pela República, dissera que:
"A República não é nada, é apenas um nome sem matéria nem forma. Sulla, que abdicou da ditadura, foi ignorante [no sentido de sequer ter uma educação primária]. Os homens devem agora ser mais circumspectos comigo e tomar como leis as coisas que eu disser". [Nihil esse rem publicam, appellationem modo sine corpore ac specie. Sullam nescisse litteras, qui dictaturam deposuerit. Debere homines consideratius iam loqui secum ac pro legibus habere quae dicat.]
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Nota sobre a tradução.
(1) Traduzi “sine corpore ac specie” por “sem matéria nem forma”, em referência aos conceitos aristotélicos. Com efeito, o próprio Cícero propusera traduzir o termo grego εἶδος para o Latim como forma, quando fosse a tradução latina de εἶδος no plural, e como species, se no singular. Veja, por exemplo: Oleg Kharkhordin, “Res Publica and Res Publicae: history and politics of the terms”, in Dominique Colas & Oleg Kharkhordin (eds.): The Materiality of Res Publica: How to Do Things with Publics, Cambridge Scholars Publishing, 2009, cap. 6, p. 255.
(2) O trecho latino é um discurso indireto em que as coisas ditas por Júlio César estão em acusativo com infinitivo. Por questão de estilo e coerência com o Português mais natural, preferi trocar por um discurso direto.