BONA DEA
(Rodrigo Peñaloza, 9-IX-2019)
Literalmente, Bona Dea significa “Boa Deusa”. Era também conhecida como Maya ou Fauna, tida por filha, irmã ou esposa de Fauno. Seu santuário era localizado aos pés do Monte Aventino (uma das 7 colinas de Roma). As matronas romanas lhe rendiam culto no dia 1o de maio, pedindo fertilidade e saúde. Homens eram proibidos de entrar no templo. O ritual anual de dezembro ocorria pro salute populi romani, isto é, “em favor da saúde do povo romano”. Curiosamente, no ano 62 a.C., Cícero acusou Clódio de assistir aos ritos disfarçado de mulher. Escreve Cícero em suas Cartas a Ático, I.12.3:
Publium Clodium Appi filium, credo te audisse cum veste muliebri deprehensum domi C. Caesaris cum pro populo fieret, eumque per manus servulae servatum et eductum. Rem esse insigni infamia. Quod te moleste ferre certo scio.
“Creio que você ouviu que Públio Clódio, filho de Ápio, foi flagrado com vestes de mulher na casa de César, quando a cerimônia (pro populo = “em favor do povo”) ocorria, mas servas o retiraram de lá. Foi um escândalo. Sei que certamente o molesto com isso”.
É Plutarco (Vida de César, 9–10) quem conta mais detalhes. Clódio teria um caso amoroso com Pompéia, mulher de César, e viu na cerimônia uma oportunidade de encontrar-se fortuitamente com ela. Entrou disfarçado de mulher, tocadora de flauta. Foi, porém, logo flagrado por uma serva de Aurélia, mãe de César. O alarme soou e ele foi enxotado. Em razão disso, César divorciou-se de Pompeia.
Cícero acusou Clódio, mas quando, no julgamento, César foi chamado a depor, ele disse não saber nada disso. Foi então que, perguntado por que, afinal, ele se havia divorciado de Pompeia, César respondeu (Plutarco, Vida de César, 10.6):
“Porque eu considerei que sequer deveria estar sob suspeição” .
Bona Dea não foi propícia a Pompeia. Não bastou ser a mulher de César, assim como não basta crer para ser ajudado: é preciso madrugar.