DAS NEFASTAS CONSEQUÊNCIAS DO POLITICAMENTE CORRETO SOBRE NOSSAS CRIANÇAS

Rodrigo Peñaloza
3 min readAug 25, 2019

(Rodrigo Peñaloza, 25 de agosto de 2019)

Vejam as consequências do excesso do “politicamente correto”. Narrava eu fábulas de Esopo a duas crianças, um casal de irmãos. Entre as fábulas, a da formiga e da cigarra, cuja moral é a valorização da previdência, um hábito essencial para a felicidade humana, o reconhecimento de que as vicissitudes da vida requerem de nós o devido respeito e a atenção para cuidados que beiram ao bom-senso. Pois bem, quando perguntei o que compreendiam pela moral da história, só o que a bela menina conseguia dizer é que a formiga e a cigarra ficaram amigas. Contei outras de Esopo e sempre as mesmas interpretações: de que o lobo e o coelho tinham de ser amigos; de que o cão e a lebre não podiam brigar, enfim, sempre de que tinham de fazer as pazes. Para testar, contei a dos três porquinhos, de Joseph Jacobs, e mais uma vez a mesma interpretação padronizada.

Ocorre aí uma clara influência de professorinhas (os pais das crianças não são responsáveis por isso, pois não conhecem Esopo e sequer sabem o que é uma fábula) que não têm a menor ideia da função da fábula e que, viesadas já pela excrescência intelectual do politicamente correto, deturpam todas as lições morais para as quais as fábulas foram inicialmente criadas. Essas pessoas certamente passam da ação inicial de alterar a letra de “atirei o pau no gato” ou de “samba-lelê tá doente” para ações como crucificar Monteiro Lobato por racismo ou jogar as fábulas de Esopo à lixeira da história, fábulas essas que vieram ao mundo há 25 séculos, pelo gênio dos gregos, para a educação e formação moral da Humanidade, e formaram o caráter de César, Vergilius, Leonardo da Vinci, Thomas More, Kant, Chesterton, Lincoln, Luther King e, na verdade, de todos nós. Não contesto que a paz deva ser buscada, que a inimizade deva ser transformada em amizade.

Tudo isso é correto. Porém, ao deturparem o caráter educativo da fábula, fecham as portas para todas as outras lições morais e sem as quais o Homem simplesmente se animaliza. Essas mesmas pessoas posam de críticas da Educação clássica e vociferam a importância da educação emocional, mas o fazem com tanta ignorância e sob os auspícios de tantos desmandos, que negam a si mesmas. O pior é que, negando-se, condenam nossas crianças à infantilidade emocional eterna.

Ora, a fábula expõe à criança, de forma lúdica e simbólica, a realidade emocional da vida e a prepara para viver essa realidade com sabedoria. A inimizade entre a formiga e a cigarra é aspecto secundário na história: o único aspecto essencial é a moral. A doença do politicamente correto é tão nociva, que, a pretexto de uma falsa valorização do Bem, impinge à criança o oposto: o despreparo para enfrentar o Mal.

Eu não duvido de que o politicamente correto, pelos excessos e desvios de que já deu incontestes provas, é uma expressão do Mal na Terra e que seus proponentes e defensores mais intransigentes simplesmente erram, por carência de educação emocional.

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Rodrigo Peñaloza
Rodrigo Peñaloza

Written by Rodrigo Peñaloza

PhD in Economics from UCLA, MSc in Mathematics from IMPA, Professor of Economics at the University of Brasilia.

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