Globus Sordidus: a lambança estética

Rodrigo Peñaloza
1 min readJan 14, 2022

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(Rodrigo Peñaloza, 2020)

O que mais há nas novelas daquela rede de TV destruidora da família e da cultura, a Globus Sordidus, é o seguinte: uma cena trágica de um grupo de personagens dramáticas saltar imediatamente para um cena cômica com o núcleo burlesco da novela. As novelas da Globus Sordidus têm pelo menos dois núcleos, um trágico e um cômico, que se interrelacionam pelas beiradas com personagens-chave que transitam entre os núcleos. É uma lambança estética que me faz lembrar dos meninos quando, certa vez, os flagrei misturando salaminho com nutella no mesmo pão, presos da ânsia de ter tudo de uma só vez. Adultos também são presas fáceis daquilo que eu chamo de fast-food estético: a experiência rápida e superficial das emoções sem gosto. A arte tem leis estéticas. Quem diz que tudo é arte não entende coisa alguma. Cícero, em um opúsculo sobre os gêneros de oradores, já começa estabelecendo essa crucial diferença:

“Portanto, tanto na tragédia o cômico é um erro, como é torpe na comédia o trágico”. [Itaque et in tragoedia comicum vitiosum est et in comoedia turpe tragicum. Cicero, De Optimo Genere Oratorum, 1.1.

Veritas et humanitas in rete Globo Sordido televisifica non sunt.

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Rodrigo Peñaloza
Rodrigo Peñaloza

Written by Rodrigo Peñaloza

PhD in Economics from UCLA, MSc in Mathematics from IMPA, Professor of Economics at the University of Brasilia.

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