Gonçalves de Magalhães e suas reflexões espiritistas
Gonçalves de Magalhães (1811-1882), autor de Confederação dos Tamoios e de Suspiros Poéticos e Saudades, pai do romantismo brasileiro, é considerado também um dos precursores da Psicologia no Brasil e autor do primeiro tratado de Filosofia em nossa nação. Seu tratado de Filosofia, Factos do Espírito Humano, foi publicado em 1858 e nele Gonçalves de Magalhães filosofa sobre temas espiritistas que haviam vindo à luz no ano anterior, 1857, em Paris, com a primeira edição do Livro dos Espíritos.
"Que impossibilidade ha nessa duração e immortalidade da consciência individual? Não me conheço eu hoje o mesmo que era ha quarenta annos, tendo crescido o meu corpo, e tendo-se renovado continuamente de modo tal que não ha n'elle uma só molécula com que veio luz do dia? Porque não poderei eu, psychologicamente fallando, existir quando a outros olhos parecer este corpo sem mim? Quando por falta de um orgam não possa o espirito dizer aos que prantearem em torno deste expolio: Eu aqui estou, liberto pela morte desse phantasma, sobre o qual ainda chorais! Porque não poderíamos nós ter existido no seio de Deos, ou mesmo neste mundo, como o suppunha Pythagoras, antes de revestir-nos do corpo actual? Porque não poderíamos ter perdido a memória dos nossos actos passados, a fim de que livre e meritoriamente cumpramos alguma missão?"
Domingos José Gonçalves de Magalhaens (1858), Factos do Espírito Humano, cap. XV, pp. 393-394.