Os ingênuos

Rodrigo Peñaloza
5 min readDec 11, 2023

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Têm bom coração, preocupam-se com o sofrimento humano e tomam as dores dos mais fracos. Falta-lhes, porém, o entendimento real de como resolver o problema econômico básico da Humanidade ou de, pelo menos, como lidar com ele sem piorar a situação daqueles mesmos pelos quais lutam. Amparam-se no socialismo marxista pela razão superficial de que, ao propagandear-se, o socialismo resume a si mesmo como uma doutrina pela libertação dos oprimidos e é por esse lema que são convencidos. Isso lhes basta, pois é precisamente o lema que vai ao encontro de seus anseios mais humanitários.

Contudo, não compreendem a inconsistência teórica e prática do socialismo, são incapazes de perceber que o que subjaz as teses socialistas de mais sentimental apelo é toda uma teoria econômica absolutamente irreal e há muito refutada. As teses socialistas populares de derrocada do capitalismo, de luta de classes, de extração de mais-valia etc. não se sustêm a qualquer análise mais séria e nem à evidência empírica.

O problema é que o apelo político do socialismo pode subsistir em meio às massas sem necessidade de se justificar teoricamente. O próprio termo “capitalismo”, criação do léxico marxista, é inapropriado para descrever a economia de mercado. Em outras palavras, ao descrever o objeto de estudo, o socialismo seleciona apenas um de seus aspectos e o traveste de monstro, faz dele um relato irreal e o vende como a descrição do objeto original. Para vender mais, apõe ao produto os lemas sedutores que tanto conhecemos.

No âmbito intelectual, o socialismo sobrevive dentro de uma bolha graças a pseudo-intelectuais que perenemente repetem as mesmas teses irreiais, alheios a qualquer interação dialética mais sólida com seus oponentes. Falo de dialética no sentido socrático, não no marxista. Comerciam suas teses entre si mesmos, mas têm o consolo de seduzir os leigos e ganhar-lhes o apoio político. À exceção de alguns poucos que são evidentemente mal-intencionados, a maioria desses “intelectuais” é simplesmente ingênua, de uma ingenuidade muito próxima da ignorância.

São, porém, incônscios do mal que fazem ao propalarem ideias cujo efeito mais cruel e imediato é a supressão daquilo pelo qual a Humanidade lutou por séculos: a Liberdade. Isto porque os socialistas tomam por preceito a crença equivocada de que o caminho da felicidade humana não passa pela Liberdade, mas pela coordenação das massas no planejamento econômico e social, como se os homens fossem uma sociedade de formigas. Não entendem esses “intelectuais” que tamanha coordenação só é possível pelo aniquilamento da liberdade. O fato é que, impossibilitados de tal coordenação, a realidade das coisas é que o seu comando recai nas mãos de poucos, exatamente como ocorreu em todas as experiências socialistas da história, e é nesse momento que o lado mais perverso da natureza humana se mostra: a ditadura de uns poucos sob a égide da ditadura de um partido único. Chega a ser assustador, ademais, ouvir de seus líderes intelectuais que a criação dessa sociedade de formigas é a libertação das massas pelo mero fato de ser uma ruptura com um inimigo opressor inexistente: o capitalista.

O Liberalismo, ao contrário, ciente da natureza humana, requer, no campo político, a Democracia, a pluralidade de partidos e a renovação do poder. Que é a Democracia senão a expressão da liberdade de consciência no âmbito civil? No campo econômico, requer a liberdade do mercado. Que é a economia de livre mercado senão a expressão da liberdade de consciência no âmbito econômico? A existência de grandes corporações que dominam certos nichos econômicos pode ser vista de formas diferentes. Pode, por um lado, ser o resultado natural da liberdade de mercado. Em nada isso significa opressão. Por outro lado, pode ser o resultado de políticas socialistas que agigantam o Estado e promovem a promiscuidade entre o público e o privado. Esse é apenas o mal menor causado pelo socialismo, que pode aparecer não apenas como sistema explícito em algumas nações, mas como sistema implícito e parcial em nações democráticas como a nossa, na forma de partidos políticos, como o PT e o PSOL, e os ideólogos ingênuos que pululam em nossas universidades.

Para reduzir a pobreza, é preciso educação, uma tese absolutamente liberal. A educação socialista não é uma educação libertadora: é uma educação doutrinária. É preciso que o cidadão tenha a oportunidade de produzir, de abrir sua loja, seu comércio, e sobreviver e, principalmente, de arcar com as más decisões que tome. Isso é natural. Quando grandes corporações e Estado se prostituem mutuamente, o que se tem é a negação do Liberalismo. Os socialistas, no entanto, mais uma vez alcunham esse mal de “capitalismo” e “direita”. O Estado agigantado não sobrevive sem impostos, mas são os impostos excessivos que matam o pequeno empresário na nascente. Ao defender um Estado gigante, os socialistas tolhem a tendência natural do livre mercado de reduzir a pobreza. E quando a pobreza é evidente, mais uma vez bradam “capitalismo”, “direita”. Quando o Estado socorre grandes corporações - como o BNDES sob a desculpa governamental de que o socorro é socialmente relevante e que o mercado não pagaria por isso -, as perdas econômicas são enormes, mas as sociais são ainda maiores. Isso não é mercado: é o Estado agigantado, é a esquerda empobrecendo o país. Entretanto, mais uma vez atribuem ao “capitalismo” e à “direita” o mal que eles mesmos causaram.

Acreditam que o “capitalismo” exige a opressão das massas e que somente o socialismo pode reverter esse triste quadro. Quanta fantasia! É realmente triste ler os devaneios de um Leonardo Boff e de autoproclamados economistas liberais que, na esperança de um cargo de prestígio, apoiaram Lula; os projetos de um PSOL, que reafirma a violência social; as mentiras cibernéticas nas quais o típico defensor do PT encontra a única tábua de salvação em meio à vergonha de ter de admitir a própria ingenuidade. São mentirosos os pseudo-diários como Diário do Mundo, Revista Fórum e outras esquisitices de natureza goebbeliana e são mentirosos os pequenos goebbels.

A loucura petista levou o país a essa crise de enormes proporções. Mas vamos sair dela, talvez depois de duros anos. Mas suas consequências serão mais longas. O Brasil precisa deixar de ser uma sociedade infantil e aprender de uma vez por todas a não temer a Liberdade.

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Rodrigo Peñaloza
Rodrigo Peñaloza

Written by Rodrigo Peñaloza

PhD in Economics from UCLA, MSc in Mathematics from IMPA, Professor of Economics at the University of Brasilia.

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