Pequeno ensaio estético sobre o arroz-e-feijão ou: das razões pelas quais o feijão é por cima e não por baixo, como querem fazer crer algumas mentes perversas
Muito se debate se o feijão é por cima ou por baixo do arroz. A controvérsia divide estados da Federação e tradições regionais. Não chega a romper laços de família e de amizade, como ocorre com a controvérsia Lula×Bolsonaro, mas causa estupefação até para o observador imparcial mais indiferente.
O feijão é por cima ou por baixo? - perguntamos com espírito científico e denodo filosófico. Não porque eu seja carioca, mas o desfecho de minhas reflexões sobre essa inglória disputa me leva a afirmar peremptoriamente que o feijão é por cima e ponto final.
A razão é óbvia. Você põe o feijão por cima porque o caldo penetra na porção de arroz e é daí que vem o gosto da comida. Se você puser o feijão por baixo, o arroz fica seco e a única maneira de molhar o arroz no caldo é mexendo com o garfo e misturando tudo, o que é profundamente deselegante, além de não ser funcional, pois exige um esforço desnecessário. Não é tecnicamente eficiente. Com o feijão por cima, é só dar uma garfada e já vem tudo junto, com o sabor salgadinho do caldo.
Só mesmo uma mente perversa, doentia, psicopata e deselegante poderia conceber a ideia de que o arroz é por cima. Existe um lugar reservado no inferno para essas pessoas. Dizem que o Cramunhão, vulgo Capeta, o Demo, o Coisa Ruim, tem um castigo cruel para elas: comer arroz puro todo dia, almoço e jantar, sem feijão, sem farofa, sem alho, sem bacon, sem couve, sem rodela de laranja, sem cerveja e sem aquela pinguinha que só o Cachaceiro-mor do Planalto compreende.
Dirime-se, assim, ad aeternum, sine dubio, pro certo, sanissime, per omnia saecula saeculorum, definitivamente tão espinhosa questão.
Oremos pelos infelizes que põem o feijão por baixo do arroz até que um dia se arrependam desse pecado mortal e salvem suas almas da perdição eterna.