POLITEÍSMO?
(Rodrigo A. de Souza Peñaloza, 8-X-2019)
O politeísmo dos antigos muitas vezes é mal-compreendido e usado para discursos com fins outros que a sincera intenção de compreensão histórica. Sêneca, na carta a Lucílio 41, escreve o que já não era incomum entre os antigos, ao contrário do que querem fazer crer aqueles que atribuem à ideia de deus o escuso papel de instrumento de dominação de classe:
“Não é preciso as mãos elevadas ao céu nem exortar ao sacerdote para que nos admita aos ouvidos da estátua, como se assim pudéssemos ser melhor ouvidos: deus está junto de ti, deus está contigo. Assim te digo, Lucílio: um espírito sagrado habita dentro de nós, é o observador e o vigia de nossas más e boas ações”.
Non sunt ad caelum elevandae manus nec exorandus aedituus ut nos ad aurem simulacri, quasi magis exaudiri possimus, admittat: prope est a te deus, tecum est. Ita dico, Lucili: sacer intra nos spiritus sedet, malorum bonorumque nostrorum observator et custos.
Logo depois, Sêneca cita Vergilius (Aeneida, VIII.352):
“Qual deus, isso é incerto, mas existe deus”.
Quis deus incertum est, habitat deus.
O mais contundente, porém, é o que imediatamente se segue e do qual apenas ofereço um excerto:
“Se a ti se apresentasse um bosque pleno de velhas árvores e de altura incomum e tal que a estreita separação dos ramos, uns com os outros entrelaçados, a vista do céu oculta, essa grandeza silvestre, a solidão do lugar, a maravilha das sombras na lhanura tão densa e contínua fariam surgir em ti a fé no divino”.
Si tibi occurrerit vetustis arboribus et solitam altitudinem egressis frequens lucus et conspectum caeli ramorum aliorum alios protegentium summovens obtentu, illa proceritas silvae et secretum loci et admiratio umbrae in aperto tam densae atque continuae fidem tibi numinis faciet].
