Por que a colusão de firmas é mais efetiva quando o comprador é o governo?

Rodrigo Peñaloza
3 min readOct 20, 2023

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No artigo "Eletrical equipment collusion: why and how", Armen Alchian [Economic Forces at Work, 1977, cap. 10] explica por que a colusão de firmas é mais efetiva quando o comprador é o governo do que quando são agentes privados. O argumento se baseia no fato de que o administradores públicos de propriedades públicas têm incentivos desalinhados. Em outras palavras, eles não internalizam nem os custos nem os benefícios sociais de suas decisões.

O modo mais fácil de entender isso é perguntar-se por que os governos usualmente fazem compras por licitação ou leilão selado de menor preço, ao passo que os agentes privados não. Se um grupo de firmas colude para lhe cobrar $10 por um bem, você pode comprar de outra firma, mas não é só isso. As próprias firmas concorrentes fora do conluio podem out-compete as coludentes cobrando-lhe $9. Não é do interesse das firmas coludentes incluir todas as firmas no conluio, pois isto diminuiria os lucros de conluio de cada uma. A manutenção de conluios com grandes números não é estável e nem é um jogo cooperativo (ou seja, não existem ganhos super-aditivos de coalizão), pois existem custos de informação e de monitoramento que podem sobrepujar os ganhos. Tanto você, como agente privado, assim como as firmas privadas, têm um modo usual de transação, que é comprar da firma que oferece pelo menor preço, sendo que sua avaliação do que seja o menor preço já inclui os seus custos de busca e de informação. Ninguém faz as compras do mês anunciando na internet que comprará do supermercado que oferecer o pacote desejado de produtos ao menor preço.

Pois, então, por que o setor público faz assim? Justamente porque o administrador público não detém o direito de propriedade sobre a propriedade pública que adquire ou da qual faz uso. De modo a imitar o mais proximamente possível aquilo que qualquer agente privado faria normalmente ao comprar um bem, o governo utiliza a regra de licitação ou de leilão selado de menor preço. Se três firmas participam da licitação, o administrador compra da mais barata, mas ele não pode e nem tem incentivos para se negar a comprar de qualquer uma delas e procurar uma oferta ainda melhor.

Alchian não nega que firmas possam colidir contra consumidores privados. O ponto não é esse. É, antes, a proposição segundo a qual a colusão é mais efetiva quando dirigida ao comprador público que ao comprador privado. O leilão selado é um mecanismo utilizado pelo governo precisamente para reduzir os problemas resultantes do desalinhamento de interesse do administrador público enquanto agente público e a forma como ele agiria se internalizasse privadamente todos os benefícios e custos de suas ações.

David Henderson assim explica a origem do artigo de Alchian:

In the late 1950s, there was a major antitrust case against electrical equipment manufacturers who were alleged to have conspired to fix prices. In an unpublished and undated article, presumably written shortly after the case, Alchian shows that what happened was consistent with economic theory. The collusion was successful, he notes, mainly against government buyers who used sealed-bid contracts. Why would that matter? Alchian explains that one of the major problems colluders have is enforcing their collusive agreements. If they cannot know who cheated on the agreed-upon price, then enforcement is difficult, and there is a strong tendency to cheat by undercutting the agreed price. What makes enforcement relatively easy is if the buyer identifies who bid what price. Guess what government buyers do? They announce all bids with bidders’ names attached to specific dollar bids. By contrast, notes Alchian, private buyers tend not to use sealed-bid systems and, thus, are less vulnerable to collusion. One reason that private buyers tend not to use such systems is that they want to play off one bidder against another, and they realize that broadcasting all bids to all bidders would undercut that strategy. The government employee on the other hand, no matter how high-level, does not have the same incentive to save money because any savings go to the government entity. However, owners of private firms, even if ownership is dispersed, give larger incentives to their agents within the firm to save money.

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Link para David Henderson:

https://www.econlib.org/library/Columns/y2019/Hendersoneconomicsworks.html

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Rodrigo Peñaloza
Rodrigo Peñaloza

Written by Rodrigo Peñaloza

PhD in Economics from UCLA, MSc in Mathematics from IMPA, Professor of Economics at the University of Brasilia.

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