Todo marxista é ateu
Não é à toa que marxistas temerosos de se assumirem materialistas expressem simpatia pelo panteísmo de Spinoza, porquanto nele encontram uma justifica para reduzir Deus à Natureza, ou seja, à matéria. Marilena Chauí que o diga. Já vi muitos marxistas alegando que Marx não era ateu, que apesar de ter-se assumido ateu nos seus escritos de juventude, não se assumiu assim n’O Capital. O argumento que apresentam é que, lá, Marx não condenou a religião, apenas explicitou sua importância como ópio do povo. Por ópio do povo ele entendia o caráter consolador da religião para a classe oprimida, mas que seria então superada no comunismo. Não se iludam. N’O Capital, quando no capítulo 1 Marx fala da natureza fraudulenta da mercadoria (o que alguns tradutores nacionais traduziram por fetiche da mercadoria), ele usa a religião como analogia, o que significa, grosso modo, que ele admitia o mesmo lógos. O proletário, quando produz a mercadoria, não reconhece que ela é sua criação e ela, a mercadoria, toma uma vida independente dele. Esse é o “fetiche” da mercadoria. Essa ideia de alienação Marx tomou emprestada de Feuerbach, que, apesar de não ter usado o mesmo termo, usou exatamente a mesma narrativa (lógos) ao dizer que as ideias religiosas de Deus, alma etc. são criações do intelecto humano e que, fora do em-si humano, tomam vida própria. Se Marx não compartilhasse ainda da visão de Feuerbach sobre a inexistência de Deus, não teria usado essa analogia. Educado que foi na tradição clássica, ele entendia muito bem o significado filosófico da analogia. Quem se diz comunista cristão não sabe nem o que é comunismo nem o que é Cristianismo. O marxismo é materialista e, portanto, ateu. Simples assim.