Um pouco da pré-história do marginalismo: Jaime Balmes

Rodrigo Peñaloza
3 min readMay 22, 2023

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Na História do Pensamento Econômico, aprendemos que a revolução marginalista começou com as obras clássicas de Carl Menger (Princípios de Economia Política) e William Stanley Jevons (Teoria da Economia Política), ambas publicadas interessantemente no mesmo ano: 1871. Ao resolver o paradoxo do valor, esses autores foram brilhantes porque reformularam a pergunta. Os economistas clássicos se perguntavam como um pão poderia valer menos que uma barra de ouro, sendo que o pão era muito mais útil. O erro dos economistas clássicos estava em encarar a escolha como uma espécie de tudo-ou-nada, a saber, o ouro versus o pão. Menger e Jevons compreenderam que a pergunta estava mal formulada, que a forma correta de resolver o paradoxo do valor era mediante a ideia de mais pão e menos ouro ou vice-versa, ou seja, era preciso fazer a análise na margem.

Quase 30 anos antes, porém, precisamente em 1844, o padre jesuíta Jaime Balmes (1810-1848) já havia resolvido a questão justamente com o insight marginalista em um artigo intitulado: Verdadera idea del valor - o reflexiones sobre el origen, naturaleza y variedades de los precios. O artigo encontra-se numa coletânea de seus escritos, Selecta Colección de los Escritos del Señor Doctor Jaime Balmes, editada em 1850 no México.

Jaime Balmes era catalão (ou espanhol, conforme a picuinha que mais lhe mova a alma) e foi considerado um dos grandes teólogos e apologéticos do século XIX. Observe que ele viveu apenas 38 anos. Ele tinha 30 e poucos anos de idade quando escreveu seu artigo sobre o valor.

Eis aqui um trecho do artigo, que extraí da coletânea supramencionada e na qual há também vários outros artigos interessantíssimos.

Un pedazo de pan tiene poco valor, pero es porque tiene relación necesaria con la satisfacción de nuestras necesidades, porque hay mucha abundancia de pan; pero estrechaz el círculo de la abundancia, y crece rápidamente el valor.

O valor, portanto, reflete a escassez relativa do bem. Balmes expõe sucintamente sua visão, mas, antes, rejeita veementemente, e até com sarcasmo e desprezo, a teoria do valor-trabalho:

Y sin embargo, segun Destutt-Traci el valor natural y necesario de la comida sería el trabajo que cuesta; idea falsa, absurda, rechazada por el buen sentido, y que sacada del terreno científico y arrojada en medio de alegres convidados, no podría menos de sufrir satírico gracejo.

Se Marx, que se assentou na teoria do valor-trabalho e com a qual erigiu seus erros e sua equivocada teoria do funcionamento da economia capitalista, tivesse lido Balmes, talvez não houvesse escrito tanta besteira. Afinal, apesar de ter se enganado hiperbolicamenre, Marx pelo menos era intelectualmente honesto.

Balmes, com seu curto artigo, deveria estar na galeria dos fundadores do marginalismo. É claro que autores posteriores, como Menger, elaboraram suas ideias em tratados, mas isso não priva Balmes de sua visão lúcida sobre o valor.

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Rodrigo Peñaloza
Rodrigo Peñaloza

Written by Rodrigo Peñaloza

PhD in Economics from UCLA, MSc in Mathematics from IMPA, Professor of Economics at the University of Brasilia.

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